quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Só pode brincar no seu quarto...


Todo mundo que tem criança em casa conhece o dilema: como dar a liberdade necessária para que seu filho ou sobrinho exercite a criatividade sem colocar em risco os móveis, quadros e paredes da casa?

Uma solução comum é criar o famoso "quarto da bagunça" - que pode ser o próprio quarto da criança. Nesse espaço (e somente nele), ela irá fazer desenhos, brincar com jogos que estimulem a criatividade, inventar personagens, enfim, fazer o que vier à cabeça. Crianças precisam de limites. Caso fiquem "soltas" vão colocar em risco tudo que estiver em volta...

Um dos mantras do mundo ágil é a auto-organização (self-organization) das equipes. É um conceito frequentemente mal interpretado pelos iniciantes em agile. De fato, as equipes têm liberdade para se auto-organizar, mas isso só acontece dentro dos limites do processo e do negócio em que estão inseridas.


Em "The Biology of Business", Philip Anderson diz enfaticamente:

"Self-organization does not mean that workers instead of managers engineer an organization design. It does not mean letting people do whatever they want to do. It means that management commits to guiding the evolution of behaviors that emerge from the interaction of independent agents instead of specifying in advance what effective behavior is."


As equipes, por exemplo, não escolhem o produto que irão construir e nem podem livremente escolher quais itens irão priorizar do Product Backlog. Quem tem essa responsabilidade é a gerência do produto e/ou o Product Owner (no caso do Scrum).

Entretanto, elas podem se auto-organizar para investigar soluções para problemas existentes, decidir qual o melhor par para executar uma determinada tarefa, distribuir as tarefas de acordo com o skill de cada membro e escolher que estórias implementar do sprint backlog. Essa lista, obviamente, não é final. Há outras atividades que são definidadas através da auto-organização.


Mike Cohn ajuda a iluminar esse ponto em "Succeeding with Agile":

"Self-organization does not occur in a vacuum. The right preconditions must be in place for self-organization to occur. Individuals then self-organize within boundaries established by the organization. This is referred to as the CDE model, which says that for self-organization to occur there must be a container that bounds the individuals, some differences among them, and transforming exchanges."


Esse container que Mike Cohn explica é justamente o espaço que é dado para que o Time se auto-organize. É uma linha tênue entre a liberdade e o mínimo de controle necessário para que as coisas não apontem em direção ao caos.


Funciona mais ou menos como as cordas da minha guitarra: se afrouxar demais não tocam, se apertar demais arrebentam...

2 comentários:

  1. De fato, organização é tudo.
    Minha filha de 2 anos e meio possui uma relação interessante com os limites. Quando ela percebe que aquele limite (por exemplo, fique brincando quietinha aí no sofá) é um subterfúgio nosso para ficarmos no quarto a vontade sem aquela vozinha do nosso lado que não para de falar, ela subverte os valores e faz alguma bagunça na sala só para nos atrair até lá. Mesmo indo para brigar, nós vamos. Percebi isso recentemente e achei que tinha muito a ver com o que você escreveu. Às vezes um limite mal posto é semelhante a uma corda frouxa.

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  2. Os pequenos são fogo hehehe, muito mais espertos do que nós pensamos...

    Eles nos testam o tempo todo para saber até onde podem ir e o quanto conseguem subverter o próprio espaço que lhes é dado, como você bem descreveu.

    Em geral, fazem isso porque querem atenção rs

    abs,

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