quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Agilidade em Empresas Públicas

Como professor, tenho tido oportunidade em treinar pessoas de várias empresas públicas e autarquias federais. Gente do BNDES, da Petrobrás, da Finep, do IBGE, que vem dedicar seu tempo para aperfeiçoar habilidades em várias assuntos de software e TI.

Durante um desses cursos, em uma discussão sobre Scrum , uma questão apareceu para gerar uma certa polêmica : é possível aplicar métodos ágeis nessas empresas?

O primeiro impulso seria naturalmente responder não à pergunta, porém vamos analisar um pouco mais...

É certo que em muitas dessas empresas a burocracia pode ser excessiva e as pessoas podem estar paralisadas por processos antiquados. Também é verdade que a estrutura de poder nessas organizações, fortemente montada sobre uma estrutura hierárquica, pode dificultar o papel do Scrum Master em blindar "blindar" a equipe contra interferências externas.

Meu aluno Gilberto Martiniano, que trabalha com muitos contratos governamentais, expõe bem essa questão:


"Muito provavelmente será necessário a criação oficial desse cargo na estrutura funcional (com os devidos adicionais e descrição de obrigações, deveres, direitos e poderes) de forma a viabilizar as funções desse papel. No entanto, a ameaça da interferência externa é sempre um risco a se considerar nos projetos dentro de organizações do Governo."

Incentivos para a equipe também são difíceis de implementar, já que são de responsabilidade de "chefias" constituídas em "feudos", com constantes disputas de poder.

Porém, há vantagens também...

O horário mais tranquilo, por exemplo, favorece as práticas ágeis energizadas. O profissional sabe que raramente fará horas extras e pode se dedicar mais dentro do período de 8 horas de trabalho. No setor bancário a carga horária é ainda mais reduzida, ficando em 7 horas diárias. Dentro desse período mais "humano", as pessoas poderiam programar em par com muito mais frequência, pois o cansaço do trabalho mais concentrado é compensado pela certeza que haverá tempo para a vida após o trabalho.

No mundo privado é normal as pessoas trabalharem 11/12 horas por dia (às vezes até mais do que isso, como em bancos de investimento). Não há como implementar o trabalho energizado nessas condições...

Outra vantagem do setor público é o maior incentivo para treinamento e capacitação - na maior parte das vezes feito no próprio horário de trabalho. Meus alunos de empresas públicas chegam descansados - no período matutino - para absorver novos conhecimentos e depois vão para seus trabalhos cumprir a jornada restante de trabalho (sim, conta tempo de trabalho normal o dia de aula). Os cursos são pagos pelas empresas e contam, inclusive, para a ascensão na carreira da organização.

Enquanto isso, seus colegas do mundo privado chegam exaustos para o curso da noite (alguns dormem de bater com a cabeça na mesa), depois de uma jornada intensa de atividades. Pagam os cursos do próprio bolso e têm muita dificuldade para chegar no horário estipulado para as aulas.

Concluindo, percebemos que implantar a agilidade em empresas públicas pode ser perfeitamente possível. Haverá resistências e problemas para enfrentar, da mesma forma que há desafios a serem enfrentados em empresas privadas.

Apenas serão outros desafios...






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